Case Hogeweyk – vivendo a vida da forma mais normal possível
Imagine uma pessoa com Alzheimer avançado tomando suas refeições numa casa belamente decorada, onde a sala de jantar é tão charmosa e aconchegante e a mesa é tão bem posta como se você estivesse jantando na casa dos teus avós, com toda aquela pompa e circunstância que não temos mais, mas da qual podemos ainda guardar doces lembranças.
Foi a sensação que tive quando visitei Hogeweyk. Esta palavra dificilmente pronunciável à primeira vista é uma vila modelar para pessoas com Alzheimer, e fica na cidadezinha de Weeps, na Holanda, nas cercanias de Amsterdã.
Para lá me dirigi a partir do I Fórum de Moradia para a Longevidade que organizei em novembro de 2017. Não poderia deixar de conhecer um case mundial, referência, para as pessoas que têm Alzheimer.
A preocupação não carece de fundamentos. Com o aumento de expectativa de vida da população o número de pessoas com Alzheimer no Brasil crescerá muito. Estimativas são de que uma em cada quatro pessoas acima dos 85 anos padecerá de alguma forma de demência.
Nos EUA as estimativas são de que o número de pessoas com Alzheimer passará dos 5 milhões de 2010 a 13 milhões em 2050. Um aumento gigantesco. Um sério problema de saúde pública. Com todas as consequências em termos pessoais, familiares e do sistema de saúde.
Hogeweyk estudou e pesquisou profundamente a doença. E transformou sua original casa de repouso nesta agradável cidadezinha nas cercanias de Amsterdam no polo mundial gerador de conhecimentos avançados sobre as melhores formas de tratar as pessoas acometidas pela moléstia.
E o conceito que presidiu esta transformação foi: Uma vida normal para pessoas que vivem com demência grave.
Hogeweyk começou estudando como as pessoas com Alzheimer eram tratadas. E chegou à conclusão que uma instituição tradicional para pessoas com Alzheimer cria confusões na mente dos residentes diariamente.
Analisaram que o residente com demência grave precisa de apoio para viver sua vida como de costume. E que viver junto com estranhos pode ser bom se esses estranhos tiverem o mesmo estilo de vida, pois aí podem se tornar amigos.
A demência causa medo, depressão, inquietação e agressão. Hogeweyk descobriu que nosso comportamento e o meio ambiente podem influenciar aqueles sintomas.
Partindo de uma casa de repouso convencional, o projeto da nova Hogeweyk, com 23 casas e 152 residentes, começou desafiando os pensamentos tradicionais sobre a criação e construção de comunidades.
Em primeiro lugar tratou-se do balanço no binômio segurança – liberdade. Levando em consideração o equilíbrio entre o interagir com o meio ambiente e o ser protegido dele.
A moderna Hogeweyk reinventou o conceito de vida do velho asilo. Começando pela utilização do espaço. Hogeweyk acredita que a vida deve ser mantida como era antes. Por isso praças e jardins fazem parte do projeto, assim como placas e luzes de rua, lagos e bancos de praça. E quadrados onde as pessoas se encontram e se reúnem.
As casas ficam ao redor. O objetivo é propiciar liberdade e independência com segurança para os residentes.
Os modelos de casas, diferentes entre si, ajudam na memória e na direção. Até as portas são diferentes. Sempre pensando em evitar a confusão mental e minimizar o stress.
As casas são rodeadas de serviços como sempre foi em nossas vidas: supermercado, restaurante, café, cabelereiro, teatro, pub e ambientes para encontros sociais.
O estilo de vida anterior dos residentes define a ocupação das casas. As pessoas são divididas em pequenos grupos com perfis culturais semelhantes. Isto torna a convivência menos estressante. Os estilos de vida são: Urbano; Tradicional/Caseiro; Formal/Rico e Cultural/Cosmopolita.
As casas acompanham o perfil de estilo de vida de seus moradores: conservador, com cozinha fechada, cosmopolita contemporâneo, com cozinha aberta, entre outros detalhes.
O foco é viver a vida como habitualmente, numa casa normal, com uma família normal. Onde a confusão é minimizada. E a vida segue um ritmo humano normal, convivendo-se em um pequeno grupo com pessoas com o mesmo estilo de vida. Ou seja, uma casa normal para moradores que vivem juntos como um grupo, como se fosse uma família. E o onde o residente é auxiliado por profissionais para lidar com o cotidiano como de costume. Cada casa possui quatro quartos, para 6 ou 7 pessoas, duplos ou individuais, dois banheiros, um living room e uma cozinha. São todas decoradas com muito bom gosto. A rotina no dia-a-dia das casas segue o ritmo a que os residentes estavam acostumados anteriormente. Eles participam na medida de suas possibilidades, limpando a casa, lavando e passando as roupas, preparando as refeições.
Desde a construção Hogeweyk se preocupou de envolver a comunidade do entorno no projeto. Assim, o restaurante foi projetado para ser atraente para o público externo. Até um pub irlandês foi criado. Tudo para tornar convidativa e prazerosa esta integração com a comunidade. Durante a construção os vizinhos foram sendo mantidos informados, de tal maneira que, ao final, presentearam Hogeweyk com uma estátua, para expressar esta sua conexão.
Hogeweyk também revolucionou na estética e na beleza. A partir de estudos que mostraram que a beleza impacta positivamente o bem estar e a tranquilidade neural dos residentes, tudo lá, inclusive os móveis e a decoração interna das casas, é bonito e de muito bom gosto.
Um dos outros pontos altos de Hogeweyk é a presença de numerosos voluntários. Pelo fato da vila ser modelo e case mundial o interesse em voluntariar lá é muito grande. E importante é que todos eles são totalmente capacitados para suas funções.
Para finalizar esta primeira apresentação cabe pontuar sua visão da saúde. A saúde funcional e a qualidade de vida são os eixos primordiais de Hogeweyk. O especial aqui é que o sistema é sócio-relacional, privilegiando relações humanas, liberdade com segurança e prazeres da vida versus um sistema médico pautado na doença.
Para saber mais fique em contato com a Free Aging e acompanhe seus projetos. Em breve o Brasil também terá a sua Hogeweyk.